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Depressão pós-parto

Segundo pesquisa da Fiocruz, a depressão pós-parto atinge 25% das mães brasileiras


Por Carol Amorim - Algo Mais Consultoria e Assessoria


Durante a gestação e no puerpério, as mulheres passam por diversas mudanças, entre elas, as hormonais, e se deparam com a necessidade de adaptações para a chegada de um bebê. Porém, essa fase nem sempre é vivida com tranquilidade. Segundo dados da American Psychiatric Association, a depressão pós-parto acomete entre 10% e 20% das mães e, muitas vezes, os sintomas aparecem ainda na gestação. O estudo aponta ainda que 50% desses casos apresentam sintomas no início da gravidez.


Ao se tratar das mães brasileiras, um estudo da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) afirma que a depressão pós-parto atinge 25% delas. Isso significa que uma em cada quatro mulheres vai desenvolver essa psicopatologia.


Em 2017, a biomédica Patrícia Fidelis, 37, esperava o seu terceiro filho e devido à experiência com a maternidade, ela imaginava que os cuidados com a pequena Maria Clara seriam aprimorados, a exemplo do aleitamento materno prolongado, comparado aos seus outros dois filhos. Mas, imprevistos com a saúde física da recém-nascida e com a saúde mental de Patrícia, fizeram com que a gestação e, sobretudo, o puerpério, fossem marcados pelo sofrimento.


Evolução do quadro depressivo


“Eu tive algumas preocupações tanto no período gestacional quanto no meu pós-parto. Aos 11 dias de nascida, a minha filha foi internada e, dias antes, desde o nascimento dela, notei que a Maria Clara tinha muita dificuldade na amamentação. Ela passou dias sem conseguir comer bem e com isso a levei à emergência. Após a realização de exames, foi descoberta uma leucocitose bem significativa e, a partir disso, fui entrando num grave quadro de depressão”, relata.


Patrícia conta que seu estado emocional foi notado pela equipe médica que cuidou da sua filha e que, a partir disso, ela foi aconselhada a procurar um médico psiquiatra. “Passei a não conseguir dormir por muito dias, tive preocupação excessiva, me sentia muito frustrada, culpada com tudo o que estava acontecendo com a minha filha. Eu tinha mais dois filhos, além da bebê, e eu não estava dando atenção a eles, eles estavam com as avós. Tudo isso sofreu interferência. Eu também não sentia fome, tinha agitação frequente, estava impaciente, inquieta, até que o meu quadro evolui para uma psicose puerperal, o quadro mais grave”, detalha.


Após quatro meses de uso das medicações receitadas, Patrícia passou a se sentir melhor e, com o passar do tempo, também passou a fazer psicoterapia para auxiliá-la na recuperação. Hoje, quatro anos e meio depois, ela garante que se sente bem e que, apesar de não ter sido fácil, afirma que é possível vencer as crises por meio do tratamento adequado.


Depressão atípica


Assim como Patrícia, a psicóloga Ângela Farias, 39, também foi diagnosticada com um quadro depressivo, em 2016, mas, como ela mesma classifica, atípico, já que surgiu após um processo de adoção.


Dois anos antes, em 2014, Ângela havia passado por turbulências em sua vida pessoal e profissional. Ela estava no processo de mudança de carreira, tinha voltado a morar com os pais e havia sofrido um aborto espontâneo. Meses depois, no final do ano, ela conseguiu a guarda de Davi, na época com cinco meses, e a medida que o pequeno crescia, ela notou características nele que posteriormente se confirmaram ser de um quadro de Transtorno de Déficit de Atenção com Hiperatividade (TDAH).


“Na época tive crise de choro, fadiga extrema, tristeza profunda, dores musculares, diarreias, perda de libido, ansiedade, distúrbio alimentar, além de ataques de pânico. Também me isolei socialmente, tive perda de rendimentos, minha autoimagem foi violentamente prejudicada, tive prejuízos físicos, emocionais, financeiros e sociais”, expôs.


Ela também conta que pessoas se afastaram do seu convívio e que sentiu que percorrer esse período foi “solitário”. Apesar disso, ela frisa que obteve o apoio do marido, dos pais e de alguns amigos.


“Hoje estou muito bem, estou em alta desde o final de 2018. Não tive recaídas de lá para cá, mas essa conquista não aconteceu do nada, precisei mudar hábitos, fazer tratamentos, olhar para dentro e arrumar muita coisa que estava fora do lugar, além de fazer uma ‘faxina existencial’”, destaca.


Importância dos cuidados com a saúde mental


Segundo a psicóloga e professora do Centro Universitário Tiradentes (Unit/AL) Raquel Lima Pedrosa, há uma série de fatores que contribuem para que mães apresentem um quadro depressivo. São eles: as mudanças hormonais, necessidade de adaptação devido à chegada do bebê, abdicações, instabilidade econômica, além de outras preocupações, como com a carreira para auxiliar no sustento da família.


“As mulheres com esse quadro começam a demonstrar falta de interesse por atividades diárias, sentimento de menos-valia e culpa, tristeza profunda e apatia com o bebê. As mães que já tem um histórico de depressão ou transtorno de ansiedade anterior e aquelas que não tem rede de apoio para ajudá-las com o bebê são mais suscetíveis à depressão. O ambiente que elas se encontram também é determinante para esse período”, informa.


A psicóloga e docente ainda conta que se uma mãe obtém acompanhamento psicológico durante a gestação, as chances para a evolução de um quadro depressivo podem diminuir. Além disso, atividades físicas, bons hábitos e alimentação balanceada também contribuem para o bem-estar dessa mulher.


“Para quem apresenta sintomas, o acompanhamento psicológico é o primeiro recurso que deve ser oferecido a essa mulher. A depender da gravidade dos sintomas, o acompanhamento psiquiátrico também é fundamental. O não-tratamento pode agravar a saúde mental da mãe, com risco até de suicídio. E pode também repercutir no desenvolvimento da personalidade da criança e prejudicar o vínculo com o(a) parceiro (a)”, ressalta.

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