Neurologista e fisioterapeuta da Unit defendem que é necessário, primeiro, encontrar as causas da dor para, depois, tratar a disfunção
Por Anna Sales - Algo Mais Consultoria e Assessoria
Desde os 15 anos, a jornalista e empreendedora Luana Nunes sofre com enxaqueca. “Além de sentir muita dor de cabeça, eu tinha muita náusea. Na maioria das vezes, a dor e a sensação só diminuíam quando eu vomitava. Eram dias apavorantes. Até hoje, eu sinto a cabeça latejar, como se tivesse um coração na região superior aos olhos, que chega a durar de dois a três dias sem parar”, comenta. Mas esse não é um caso isolado. Dados da Sociedade Brasileira de Cefaleia atestam que 11% da população mundial sofre com enxaqueca. Isso equivale a 874 milhões de pessoas incapazes de realizar atividades simples do dia a dia.
Segundo a médica neurologista Analuíza Luna Sarmento, que atua desde 2003 no combate à cefaleia, apesar de ser erroneamente considerada algo ‘comum’, a dor de cabeça não pode ser tratada com normalidade. “Existem mais de 200 tipos de cefaleia. A mais frequente é a cefaleia tensional. Ou seja, causada por estresse, seguida das enxaquecas. Considerar como uma ‘simples’ dor de cabeça seria apenas para os casos de privação de sono e ressaca de bebida alcoólica. Fora isso, a medida que aparece episódio de dor, é necessário procurar um neurologista”, explica.
Apesar de o primeiro passo ser procurar a ajuda de um especialista, muitos recorrem, primeiro, à automedicação. A médica faz um alerta de que esse tipo de conduta pode gerar grandes prejuízos, tais como piora de intensidade e frequência das dores, além de correr o risco de se tornar uma cefaleia crônica. A médica Analuiza Luna explica, ainda, que uma melhoria na qualidade de vida e redução do estresse, aliada com sono regulado e atividades físicas, além de evitar os fatores gatilho, que variam em cada paciente, podem ajudar no combate à cefaleia sem precisar, necessariamente, de medicamentos, desde que o tratamento seja acompanhado por um profissional.
Após descobrir que a enxaqueca era genética, Luana Nunes foi guiada por sua mãe para procurar um médico especialista no assunto. Com o passar dos anos, os enjoos diminuíram, mas a dor de cabeça aumentou. Foi quando ela descobriu que sua enxaqueca é menstrual e tensional, com intolerância a cheiro, luz e som. “Nos períodos de crise, eu preciso ficar isolada, no lugar mais escuro possível, sem nenhum cheiro de perfume, produto de limpeza, comida ou cigarro e completamente silencioso. Infelizmente, é um dia que eu preciso me desconectar de tudo, cancelar todos os compromissos pessoais e profissionais, pois, em mim, a enxaqueca é incapacitante”, relata.
A fisioterapia como aliada
Segundo o fisioterapeuta e preceptor do estágio em Fisioterapia Traumato-ortopédica do Centro Universitário Tiradentes (UNIT/AL), Rosivaldo Ferreira, a cefaleia é uma das duas maiores incidências que afastam trabalhadores de suas atividades. Assim como em muitas lesões, a fisioterapia pode ser uma aliada no combate à cefaleia. Porém, segundo ele, é comum que o paciente não procure a fisioterapia no começo dos sintomas, mas sim, quando já está desencadeado um grande desequilíbrio, o que dificulta o tratamento.
Ferreira conta que é necessário, primeiramente, encontrar as causas dessas dores e tratar essa disfunção. “Ao procurar um fisioterapeuta, o paciente não pode ir na consciência de fazer apenas liberação miofascial, pois estaremos muitas vezes resolvendo a consequência e não a causa. Quando feita uma boa avaliação, encontrando a causa das dores, sejam musculaturas do sistema estomatognático, região cervical, ombros ou mesmo vícios posturais, conseguimos gerar o cessamento dos sintomas, que diminuem a qualidade de vida do nosso paciente, aumentando assim sua autoestima e produtividade durante seu dia”, conta.
Ainda de acordo com o fisioterapeuta, o uso de técnicas de estabilização postural e estabilização central, como pilates, RPG, isostretching ou técnicas de agulhamento à seco e acupuntura, podem auxiliar na diminuição dos sintomas causados pela cefaleia. Além disso, o tempo que o paciente demorou a procurar fisioterapia e o quanto ele coopera no dia a dia para o não aparecimento dos sintomas, diminuindo as cargas e esforços repetitivos em estruturas já sobrecarregadas, podem interferir positivamente no tratamento.
“A intervenção fisioterapêutica e os resultados obtidos no tratamento e prevenção desta lesão geram melhora mais duradoura quando comparada a intervenção medicamentosa em um contexto geral, onde muitas vezes, por ser a opção mais fácil, o medicamento é escolhido pelo paciente, pela praticidade e não necessitar mudar sua rotina, porém como já mencionado, tratando muitas vezes as consequências [dores] e não as causas [desequilíbrios]. O uso de medicamentos, muitas vezes, só irá reduzir as consequentes dores de cabeças geradas pelos desequilíbrios.”, finaliza o preceptor.
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